31 de ago. de 2010

O ingrediente atrofiado

Nosso maior medo é do amor.
Então, o deixamos quieto.

Onde há amor não há mais nada
Não existem casas ou castelos
Estrelas ou constelações
Flores ou pitangas
Apenas amor.

Não nos faltou algo para ficarmos juntos.
Faltou TUDO.

As coisas sem amor são apenas coisas.
E a porta para ele entrar em nossas vidas
estava fechada a sete chaves.

No entanto,
às vezes ele aparecia na janela
por milésimos de segundo
durante um beijo
durante uma conversa sincera
um momento de paz...

Ele fazia de tudo.
Amor sem vergonha!

Muitas vezes, por debaixo da porta,
tentava escapar do seu confinamento.
Ele se sentia triste porque sabia do que era capaz:
o que dizíamos sem ele eram só palavras ocas

O safado estava maluco para nos preencher.

Confesso que a nossa relação tinha aprendizado,
mas enfim,
De que vale o fermento para um bolo crescer,
se não tivermos um bolo?
Pois é, nunca fomos um casal.

Relacionamentos assim
são apenas um jogo de flertes
Um gato e rato
onde os papéis se invertem
num teatro chamado vida.

Sabendo disso,
O amor gritava:
-Ei vocês! Seus loucos! Abram já essa porta!
-Vocês não sabem que não há dificuldade que eu não vença...
-Nem barreira que não atravesse...
-Nem pecado que não redima?

Surdos! Só ouvem o que querem ouvir.

E de tanto gritar o amor ficou rouco.
De tanto bater na porta, o amor perdeu o tato.
De tanto tentar se mostrar aos olhos, o amor ficou invisível.

Felipe Castilho
São Paulo, Março de 2010.