10 de jul. de 2013

A casa na árvore, o besouro e o Tahiti


Desde pequeno sempre quis ter uma casa na árvore
Escalava a goiabeira da chácara da minha tia-avó (Filomena)
Subia nos pés de manga da minha madrinha (Mirtes)
Mas no meu sítio, meu pai de sangue (Jorge) me prometeu uma verdadeira casa na árvore
Hoje tenho 26 anos e tudo que sei sobre casas é que elas não dão em árvores.

Filó perdeu seu marido general antes que eu nasci,
Queria ter conhecido ele, dizem que foi um grande homem
Vivi a sombra dos males que meu pai causou a minha mãe (Marta),
Tomei meu primeiro porre num bar com meses de vida
Aparentemente a caipirinha na chupeta me fez parar de chorar... né pai?
Meu tio (Dado), marido exemplar da minha tia (Lili) e pai de dois filhos é o homem que admiro
Me levava para praticar esportes, gira-gira, gangorra, brincar... é ele fazia o papel de paizão.

Meu padrasto (Marcos) em suas muitas qualidades deve ter se intimidado com minha presença.
Quando nos conhecemos pela primeira vez, com 1 ano de idade, retrucando seus paparicos lhe disse:
-Fala grosso seu enormão...
Hahaha, acho que desde então ele soube que eu era destinado a grandes coisas.
Tendo o otimismo, e os grandes desejos em comum, roubei-lhe o sonho.
Uma Mercedes conversível e um barco catamarã, são os únicos bens materiais que dou um certo valor.
Não por seu preço, mas por sua história.

Mac sempre me disse que queria viajar o mundo ao mar,
Não saber ao certo o destino,
Caribe, Fernando de Noronha, Madagascar...
onde os ventos levassem ele iria com prazer se minha mãe estivesse junto.

De mim ele esperava visitas breves,
Administraria o “book” das meninas ele brincava
Traria comigo a bordo cada vez uma mulher incrível diferente.
Ai ai ai... nerd por veia...
Dessa história toda só não absorvi o diferente.
Quero encontrar o prazer da variedade em uma só dama.

Desde pequeno, criado por mulheres, fui ensinado a ser distinto.
Ouvir suas preces, seus desejos,
Afugentar os males e compreender o que querem para si mesmas
Em um altruísmo impecável entregar o que o universo guarda de melhor
Se for para perder a mulher que amo, que seja para o bem dela.

Mas ai vem a historia do besouro...
No meu sítio eu cuidava do Baltazar.
Apelidei assim o escaravelho que encontrava nos finais de semana quando visitava meu pai
Quando eu tinha meras 5 primaveras de idade
Sempre que ia ao sitio só encontrava um besouro, e durante anos pra mim ele era único.
Baltazar e a minha veia poética são o que tenho comum com Jorge.
Assombrado por não ter uma casa na árvore,
mas alegre por saber usar palavras como um escritor
Sou feliz por ter o sangue de Jorge Reis, antigo editor da Saraiva, intelectual, mergulhador e criativo.

Minha loja de brinquedo favorita era a livraria Siciliano...
Coincidentemente ou não, concorrente da Saraiva.
Juntava moedas pra comprar livros (minha mãe completava escondido o valor).
O sentimento de ser autossuficiente sempre me alegrou.

A escalada antigamente em árvores hoje é no ginásio ”Casa de pedra” em perdizes.
O antigo besouro é meu pé atrás, meu defeito, meu vínculo, minha memória, os meus deslizes, quem sabe...

Chega de papo de família, de bagagem ancestral, sou um menininho pensante e desejo em carne viva.

Anseio que o Caribe vire Tahiti porque os sonhos sonhados são bons, mas podem ser melhorados com oque sabemos, sentimos e ainda somos verdes para mudar.
Hoje me rege um ímpeto literal teátrico no meu gene incomum
aquele que hora está descalço, hora de Havaianas mas nunca de sapatos amarrados.

Príncipe.
Náufrago.
Música.
Céu.
Bêbado.
Pássaro.
Morreu na contramão atrapalhando...


Felipe Castilho
08/07/2013