21 de nov. de 2010

Nossa senhora do batom vermelho

Ontem à noite a poesia me voltou à tona,
confesso que estava com saudade de sentir meus olhos brilharem
Fazia muito tempo desde que algo me inspirava a crescer

Ultimamente os meus amigos só me lembram do passado,
e tiram sarro de uma história de amor que não entendem
Insistem na infantilidade de rebaixar os outros por risadas

Preciso de pessoas ao meu redor que sejam grandes
e façam quem as conhecem se sentirem imensas
Talvez seja por isso que esse poema
comece quando eu estava sozinho

Hora de ir embora da festa
eu não aguentava mais as companhias temporariamente fúteis
Meus parceiros às vezes são muito individuais,
são sempre bons de se ter por perto,
mas é preciso mais do que isso
é fundamental ter interação, um ajudar o outro a vencer

No entanto, sem eles fui capaz de apurar o olhar
e foi o bastante para ver aquele vermelho de encher os olhos
Servia como a cor que enlouquece os touros,
o suficiente para me tirar do compasso
O contorno que embelezava os lábios de uma meiga morena
me devolveu a poesia que há quase 6 meses tinha me abandonado

A literatura é uma arte viva:
a inspiração textual que nasce em eventos simples e mágicos
E foi assim que aconteceu,
vivi algo que me tirou da inércia
Uma pré-aventura de girar o mundo

Tudo ali constelava não em estrelas,
mas em arte
Descrevo simplesmente como o ensaio de uma peça de sucesso
em que todos os atores
falaram e fizeram tudo certo no tempo certo

Eu queria tanto aquele vermelho dos lábios
que foi a única coisa que foi comigo para o vôo de balão

Gostei do nome dela, do signo, e da cor dos cabelos,
mas quem me conhece, sabe o que de fato me rasga por dentro:
-O sorriso!

A cor não importa muito, fiquei assim porque era só o molde
como a borda bem trabalhada de um quadro esplêndido
No entanto,
era o conteúdo que me levava a ser o artista do momento
e pintar a qualquer custo o riso nela

O mais interessante é que em minutos
eu parecia saber que dentro daquela boca
morava alguém instigante

Eu não podia me dar ao luxo de perdê-la
então tive que criar um número: 25
Hahaha, se a idade é relativa como dizem
me dei ao prazer de ganhar 1 ano a mais

Eu posso justificar esse aumento
se eu levar em conta o esforço que faço
para não desperdiçar um segundo sequer da minha vida
Aproveitando e reparando nos mínimos detalhes:
o porta guardanapos vermelho,
o rótulo da cerveja vermelho,
E a também vermelha camiseta do gordinho
da mesa ao lado enquanto escrevo
Não desperdicei nada ao reparar nesses pequenos fatos
pois eles dão beleza ao todo

Quero ser prudente e seguir o senso comum
que não escreveria nada disso para “desconhecidos”

Mas o problema de ser metido a besta
é a irreverência que o adjetivo traz consigo
O artista que voltou com estas linhas
se acha capaz de criar suas próprias regras de sucesso

Afinal eu quero inventar a minha felicidade
em moldes conjuntos
Preciso de amigos fiéis, loucas histórias de amor,
e aparentemente um pouco da cor vermelha

Deixo para você que se embriaga nessas palavras,
um pouco de guaraná.
Talvez eu teria deixado ela passar
se não fosse esse mero amuleto da sorte

E você que gosta de criar,
por favor entre no meu time
Faça o mundo se acostumar
com o ritmo dos dilacerados pela paixão
que por mais instantânea e fulminante que seja
da significado as nossas vidas
e nos mata de melhores momentos



Felipe Castilho.
São Paulo, 21 de novembro de 2010.

25 de out. de 2010

Você esta ouvindo?

Escutei recentemente que Hafiz um grande poeta da antiga Pérsia costumava contar uma lenda em que Deus fez uma estátua de argila, dando-lhe a forma segundo sua própria imagem. Em seguida queria que a alma entrasse nessa estátua para dar-lhe vida. Mas a alma não queria ser aprisionada, sabe como é. Pois isto não está na sua natureza, que é ser volátil e livre. Ela não queria ser amarrada e nem cercada de maneira alguma. O corpo é uma prisão e a alma não queria entrar nessa prisão. Então Deus pediu a seus anjos que fizessem música. E quando os anjos começaram a tocar a música, a alma se comoveu e, em êxtase, querendo sentir a música mais clara e mais intensamente, entrou finalmente no corpo.

O contorno do ser humano mortal é a pele. Esse nosso invólucro é o nosso maior meio de comunicação, é a nossa ponte para o mundo. Tatuamos-nos para passar idéias, nos vestimos conforme certa tendência ou até mesmo protestamos pelados. Tímida ou fervorosamente também emitimos e ouvimos sons. E o som o que é? Vibração. E sua recepção não repercute apenas no tímpano, mas em toda nossa superfície, é então uma operação corporal. Podemos dizer que toda voz e todo som são um tipo de massagem, uma estimulação tátil, uma massagem sutil.

Hoje em dia sabemos que as pessoas dão muito mais importância para as imagens do que para esses sons. O mundo esta cada vez mais veloz e apressado, afinal a visão não requer muito esforço. Pensamos mais rápido por imagens que por palavras. O fluxo de ouvir leva mais tempo, mas tudo que é visível morre mais rápido. A onipresença e onipotência da imagem nos compelem a um universo descartável. O ouvir exige reflexão, portanto exige tempo. Mas hoje em dia quem tem tempo? Devemos nos lembrar ainda que tempo não é dinheiro, tempo é vida. É muito mais importante do que dinheiro. Logo, hoje em dia, quem realmente vive?

A cultura do visual é: tempo é dinheiro, precisamos gerar imagem porque imagem gera dinheiro, a imagem faz vender. O tempo da imagem não é um tempo para pensar. O tempo da celeridade da imagem não é um tempo para estabelecer vínculos e nexos. Malditos sejamos nós publicitários, sabemos disso melhor do que ninguém e fortalecemos ainda mais essa lógica. Nos vendemos instantaneamente. Impulsivos, vivemos muito em pouco tempo, resumimos relacionamentos em semanas, colocamos uma história de marca em 30 segundos e toda sua filosofia num slogan curtinho.

Hoje respirei fundo e pisei no freio, resolvi pensar o mundo em câmera lenta e ouvir o que ele tem para me dizer. O ouvir nos permite gerar imagens, mas nossas próprias imagens, e essas são imagens geradas por nexos, sentidos e não são imagens oferecidas prontas de maneira a cercar a capacidade imaginativa. Imaginação vem de imagem. E esta geração de imagem é provavelmente mais fértil no tempo de ouvir do que no tempo do ver.

Que mulher nunca se intimidou com um fulminante olhar masculino? Poisé, nós homens temos predominantemente um sentido invasivo de olhar. Já a mulher é regida por um ato mais receptivo e passivo do ouvir. Essa passividade, que vem de passion que significa paixão, está associada a sensação e sentimento. Já o ativo masculino esta associado a agir a fazer. Claramente dois universos que se completam. Mas que hoje parecem estar em desequilíbrio. Estamos hipertrofiando a imagem e o olhar, quanto mais inflarmos a imagem, mais estaremos contribuindo para que o outro não nos veja mais, para que ele se torne cego ou insensível. Quanto mais nos tornamos visíveis, mais invisíveis estaremos nos tornando.


Felipe Castilho
São Paulo, 22 de junho de 2010.

31 de ago. de 2010

O ingrediente atrofiado

Nosso maior medo é do amor.
Então, o deixamos quieto.

Onde há amor não há mais nada
Não existem casas ou castelos
Estrelas ou constelações
Flores ou pitangas
Apenas amor.

Não nos faltou algo para ficarmos juntos.
Faltou TUDO.

As coisas sem amor são apenas coisas.
E a porta para ele entrar em nossas vidas
estava fechada a sete chaves.

No entanto,
às vezes ele aparecia na janela
por milésimos de segundo
durante um beijo
durante uma conversa sincera
um momento de paz...

Ele fazia de tudo.
Amor sem vergonha!

Muitas vezes, por debaixo da porta,
tentava escapar do seu confinamento.
Ele se sentia triste porque sabia do que era capaz:
o que dizíamos sem ele eram só palavras ocas

O safado estava maluco para nos preencher.

Confesso que a nossa relação tinha aprendizado,
mas enfim,
De que vale o fermento para um bolo crescer,
se não tivermos um bolo?
Pois é, nunca fomos um casal.

Relacionamentos assim
são apenas um jogo de flertes
Um gato e rato
onde os papéis se invertem
num teatro chamado vida.

Sabendo disso,
O amor gritava:
-Ei vocês! Seus loucos! Abram já essa porta!
-Vocês não sabem que não há dificuldade que eu não vença...
-Nem barreira que não atravesse...
-Nem pecado que não redima?

Surdos! Só ouvem o que querem ouvir.

E de tanto gritar o amor ficou rouco.
De tanto bater na porta, o amor perdeu o tato.
De tanto tentar se mostrar aos olhos, o amor ficou invisível.

Felipe Castilho
São Paulo, Março de 2010.

15 de mar. de 2010

Sobrenome Lispector

Não existe silêncio mais belo do que uma folha em branco, uma tela sem tinta, um palco vazio. Clarice Lispector, falecida em dezembro de 1977, chegou ao paraíso celeste e logo recebeu uma missão: com sua literatura inata, escrever a parte invisível da personalidade de algumas pessoas ainda não nascidas.

Seu primeiro trabalho é um menino que quando viu seu espaço vazio pela primeira vez, ela se apaixonou e estufou o peito. Pegou sua caneta tinteiro e copiou nele o que de mais puro acreditava ter em si.

A primeira palavra que escreveu foi “sim”. E isso bastava para ele existir.
Quando ousou tentar compor a primeira linha, não soube o que fazer, então deixou em branco e passou para a próxima.

A verdade precisava estar inscrita no garoto, e isto se tornou o contato interior e inexplicável, entre todas as suas obras seguintes, (e não apenas um ingrediente dele). Só assim, estes seres-obra saberiam se reconhecer no mundo, quando um casal-obra se encontra descobre também a existência de sua arquiteta em comum.

Agora era preciso tornar seu menino exterior e explícito, para que quem o conhecesse pudesse absorver a sua história. Começou, não obviamente, por seus segredos. Ele recebeu um título, um destino, um mistério acima de tudo, mas não um ponto final. Sua história é feita de palavras que são agrupadas em frases e evolam um sentido secreto que ultrapassam as mesmas.

Pensando na forma como tudo isso é feito, a autora não se reteve. Caiu na tentação de escrever em termos suculentos, adjetivos esplendorosos, substantivos carnudos e verbos tão esguios que atravessam agudos o ar em vias de ação.

Sua poesia em corpo de personalidade havia então de transbordar no coração psíquico do menino. Ele tinha que ser urgente, suas alegrias intensas e suas tristezas absolutas. Por mais que ele tentasse se equilibrar nos estreitos, só poderia pisar com seus pés descalços nos extremos da vida. Seu talento será ler e escrever. Apenas isto.

A autora fez questão de programar seu menino para estar sempre verde, sempre vivo em sua infância, enfim, sempre menino, para nunca amadurecer plenamente e apodrecer. Ele há então, sempre de transgredir seus próprios limites, e o próprio alfabeto daqueles que o descrevem. Seu papel está mais do que claro: entender as pessoas e o mundo, e levá-los a um lugar melhor. Com a ajuda de seu anjo, conduzirá a realidade de todos até Xangri-lá, um lugar mítico onde sonhos e desejos podem se realizar.

Ele acreditará em mudança, e seu anjo se responsabiliza pelo crescimento de sempre. O menino só conhecerá o infinito, e buscará sempre inventar palavras para o que quiser transformar, jamais mentirá em seus textos - essa será a sua conexão com sua arquiteta. Fidelidade à literatura e às artes que o conectam com o mundo.

Sabendo apenas ler e escrever, tudo que ele tem gravado nele será colocado no papel. Se copiará em folhas em branco, em paisagens, se copiará nos outros, em música, se copiará todo ao seu redor. Ele sabe que com ele será diferente, jamais morrerá ao se distribuir no mundo. Sua palheta de tintas para se espalhar por aí vem de todos os lados, o planeta todo lhe será o mais variado arco-íris fresco. A vida lhe será colorida.

Com sua personalidade original não andará jamais ao acaso. Há de escrever seu próprio caminho, esse era o seu ato. Ele gostará de interpretar as pessoas de um jeito único e diferente, isso é um fato. Não andará ao acaso, mas se entregará ao tempo, bastando estar em paz viverá sempre no presente. A eternidade está registrada nele. No entanto, se dará mal com as repetições quando acontecerem, pois toda forma de rotina lhe rouba as possíveis novidades.

Assim como ele não doma o tempo, ninguém terá a fórmula de domá-lo. Há de ser impossível, imprevisível, intrigante, inatingível, raro, por fim: proibido.
Este menino não foi a única personalidade literária de Clarice. E ela escreve todas as almas de uma forma inacreditavelmente singular, mas igualmente todas têm o dom da palavra divina. Porém, ao tentar descrever o contato fascinante que há entre elas, jamais são capazes de fazê-lo. “A verdade é sempre um contato interior inexplicável. A verdade é irreconhecível.”

Como saber que eles escrevem bem, pois não acumulam palavras. O que fazem não é acumular e sim desnudar. E inspiram tanto medo com tamanha nudez, que é impossível não percebê-la como a palavra final.

Clarice Lispector faz questão também de marcar os momentos únicos que envolvem suas criações com alguns elementos mágicos. Os encontros belos são talhados pela chuva. E quando enfim, a faísca entre eles precede o beijo das almas, ela lança do paraíso à Terra algo que não é corpo, mas algo luminoso. O caminho que o objeto faz da arquiteta no céu até seus amados na terra, risca os ares, é uma estrela-cadente.

Sim.

Felipe Castilho
São Paulo, 10 de janeiro de 2010.




P.S. Ao dizer a seguinte frase, Fernando Pessoa foi convidado a se juntar à Clarice Lispector na composição literária de algumas almas: “Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens”.

Dedicatória:
Este texto é para você, que entendeu tudo o que estava escrito nas entrelinhas.

3 de mar. de 2010

O arquipélago precioso

No meu “eu” escultor
acenderam-se as chamas flamejantes
do criativo
que descobre seu bloco intacto de mármore virgem.

Conheci o meu maior desafio:
uma imperatriz,
aparentemente imune às minhas palavras.
E assim,
na minha melhor página em branco,
escrevo a nossa história sem dar um pio.

Somente com ações,
digo aos seus olhos verdes o que desejam sentir.
Para eles,
puros como os lagos
perdidos na natureza selvagem,
mostro a vida de um homem diferente.

Contudo, preciso concordar com a garota.
Nesse mundo globalizado de produções em massa,
os humanos se vestem iguaizinhos.
Eles dizem as mesmas coisas,
frequentam os mesmos lugares
e se divertem da mesma maneira.

É um imenso mar de igualdade
preenchido por um entediante cardume
que nada sempre no mesmo sentido.
Mas pergunto:
-Onde estão os peixes raros e
insubordináveis ao senso comum?
-Permanecem camuflados.

São nadadores irreverentes
misturados nesse oceano pacato,
buscando suas pérolas originais
para desenvolverem juntos
a linguagem dos seres exóticos.

Já somos exclusivos
e não tenho mais o que rogar aos ventos.
Só quero agora
uma profecia que se cumpra sem voz.

O caminho a ser trilhado
não é previsível,
foge aos oráculos
e lhe falta estrelas.

O primeiro passo do destino
foi o nosso encontro.
E então, logo veio uma conversa majestosa.
Mas as palavras apenas vagavam ao acaso,
nada precisava, de fato, ser dito.

Iniciamos uma união poderosa,
a conexão pura
que se transformou em beijo.
Junto brotava na epiderme o arrepio das almas.

Na pele nasceu a paixão,
filha da intensidade com o prazer.

Sentimento que surgiu analfabeto,
não por lhe faltar a língua,
mas por lhe faltar razão.

No ar eram tudo sensações.
O que sentimos estava ali presente
e não há como racionalizar ou descrever.

Com esses versos apenas arranho a taça de cristal
do que foi a nossa noite.
Não transmito o que passou,
viver não é relatável,
apenas crio sobre o passado sem mentir.
Dei corpo ao encanto que se instaurou em mim.

Esse sou eu,
também formado por um conjunto de amigos sem limites,
por um bando de gatos desgarrados,
intelectuais incompreendidos,
gigantes intombáveis,
aventureiros afiados,
e piromaníacos incontroláveis.

Sou esse todo.
Eu sou tudo,
menos o meu passado!

Não sinto falta de mim,
não caio no tédio.
Cada dia sou novo.

Não sou mais o que fui,
sou o que eu sei
sobre aquilo que eu era.

Cada dia sou criança e aprendiz,
sou jovem,
amante,
mortal.
Se eu parar; morro!
E morro de morte vivida,
pois sou inventor de meus dias
e invento vida mesmo na morte!

Convido-te a desfrutar meu infinito,
nem que seja só por hoje.



Felipe Castilho
São Paulo, 23 de fevereiro de 2010


"Grandes realizações são possíveis quando se da importância aos pequenos começos". Lao-Tsé

"Vou criar o que me aconteceu. Só porque viver não é relatável. Viver não é vivível. Terei que criar sobre a vida". Clarice Lispector

17 de fev. de 2010

O ballet das abelhas

Sim,
durou tempo suficiente
para entender o que faltava em mim.
O suficiente,
para em companhia viver quase completo.

Agora,
sem depender do que vem dela
busco crescer essa completude,
desenvolvê-la aqui por dentro
com as sementes que a moça deixou.

Antes,
cuidávamos disso
em ótimos meses de plantio
nas luas certas
com a técnica dos melhores camponeses
no exato período.
O império das chuvas
juntos,
o nosso tempo fértil.

No primeiro dia, em outro ritmo,
não choveu.
É claro! O buraco jazia aberto
e as novas sementes, desprotegidas.

No segundo dia
cobri o vazio com a terra;
cobri a terra com o carinho;
cobri o carinho com o louvor.
Olhei para o céu e assenti com a cabeça.
- Deméter. Faça a sua parte!

Agora que tudo está em harmonia,
índios dançam pela chuva.
Quero sentir no rosto molhado
os ventos que anunciam a mudança.

Se for uma tempestade,
melhor ainda!
Que lave todos os males;
que tome de mim o que não presta;
leve todas as mentiras e deixe as verdades

A matéria prima da resiliência
será o que sobrar de mim em mim.

Meu coração se tornou um diamante bruto
que não se intimida e
busca conquistas inventivas;
sai da inércia das situações iguais.

Conflitos inescapáveis, todos temos!
Nos diferenciamos ao lidar com eles.
Pode-se abandonar o terreno
ou abraçar a oportunidade.
O ideal? Instaurar o seu talento.

Depois das cachoeiras
formam-se lagos abrigados
Depois do inverno,
a primavera retorna impertinente.

Com o que lhes é dado
as pessoas tristes
cavam buracos profundos.
Os felizes irreverentes
constroem montanhas inabaláveis.

Venham, venham, tormentos do meu passado
não vou fugir.
Vou comê-los com feijão e arroz,
matar no peito como Batman e seus morcegos.

Na jornada de todo herói
há momentos em que ele se debruça,
é surpreendido por algo que não se esperava,
mas ele logo, logo se reinventa e
de um jeito magnífico supera tudo o que passou.
Acontece nos filmes, e também na vida.

Almoço e janto essa ânsia de resolver conflitos,
mas sem jamais criar barreiras invisíveis,
sem rotular o presente e correr para o distante.

Para isso, isso que viverá para sempre,
aprendi que preciso do silêncio,
da humildade de ouvir para de fato escutar.
Não me ocupando demais pensando no que diria em seguida,
sem imaginar meus futuros comentários,
aqueles que soariam “mais impressionantes”, e
me deixariam completamente SURDO.

Para comunicar é preciso conectar
nos desarmar,
criar vínculos,
formidáveis elos indestrutíveis.

Elos de músicos que dançam a todo o momento
e cantam os sons que passam em suas cabeças

Paixão,
hoje sou como eles
porque acordei escutando essa poesia crua.
Um poema pelado.
É! completamente nú.

Então venham!
Venham abelhas,
levem para os jardins inaudíveis
esses versos completamente mudos.



Felipe Castilho.
São Paulo, 15 de fevereiro de 2010.

11 de fev. de 2010

Incandescente

Sou um homem de grandes vontades, gosto de rir com freqüência e ganhar o afeto das crianças. Gosto de um bom jantar, de uma viagem arriscada, e de mulheres ousadas.
Para mim, tristes são aquelas donzelas de temperamento por demais monótono, isso me sacia me desgosta. Sabe aquela dama que é sempre a mesma estátua, que nos tira o privilégio de fantasiar com ela? E isso seria um prazer tão grande, aquele que da asas a imaginação, que te faz recriar contos de fadas e costurá-los a realidade. Vim buscar uma mulher vivaz, caprichosa e decidida. Que com sua audácia me transforme no amante que encontrará o prazer da variedade em uma só dama. Estou atrás daquele tempero que toda cozinheira guarda segredo, a ilustre qualidade que impede de ficar rançoso.

Você! Faça-me impaciente, atice meu ciúme, provoque minha ira, e alimente o meu amor com reconciliações e recompensas. A variedade é encantadora, a paz muito constante produz um tédio mortal. Você era pra ser o meu tesão, o meu ódio, as minhas drogas, a minha guerra. A uniformidade mata o amor, pois assim que o espírito metódico se mistura com as coisas do coração, a paixão desaparece, a moleza sobrevém, a falta de apetite começa a cansar e o desgosto encerra o capítulo.

Einstein disse que a vida de um indivíduo só faz sentido se ajuda a tornar a vida das demais criaturas mais nobres e mais belas. E nesse exato momento não há nada de sublime, não há brasas, só existem cinzas.

Adiante Felipe! Sabes que nunca seduziu mulher alguma, apenas a ti mesmo.



14 de abril de 2009

10 de fev. de 2010

Eureka!

Eu lhe dou a minha palavra!

Existe força imperial nessa sentença. E quantos valores estão contidos nela? Pureza e transparência são invocadas ao mesmo instante. E é assim que começo o assunto de agora.

Eu lhe dou a minha palavra. Você pode respirar tanto ar quanto poesia: depende de onde coloca o seu nariz. Cada afirmação tem cheiro, cada uma, ao ecoar dentro da massa cinzenta, nos causa uma sensação, uma imagem, uma temperatura, um aroma específico.

Nós somos feitos de átomos, pensamentos e estrofes. Organismos vivos no caos. Células que formam órgãos são como letras que formam palavras e dão um significado para a sua existência. Esse é o início do paralelo entre o tocável, os sentidos e tudo que é abstrato na mulher que conheci.

Vou além de dizer que a cabeça é dela seu título - seu guia. Sua carne é seu substantivo macio e só aquele que consegue ler o que suas sílabas dizem é capaz de vê-la. Decifrá-la é ser capaz de perceber cada verso do seu corpo, suas micro-expressões faciais, seus olhares e seus sorrisos. Apreciá-la é saber envolver todos os seus adjetivos num mesmo ditado. Entendê-la é compreender a mágica literatura da sua maneira de pensar. Elevá-la é transpor todo o gozo ao clímax de sua peça. Ela é a mulher invisível. Invisível para aqueles que são analfabetos em sua linguagem.

Ela não envelhece, sutilmente, acumula primaveras e tem o poder de reflorescer o que estava devastado no coração de todos que a conhecem. Esse seu talento faz com que seus elos de afinidade sejam mais fortes. Ela busca nas estrelas a justificativa para tais uniões e algumas de suas próprias características pessoais.

Ela é de sagitário, e eu, o outro lado do elo, de escorpião. Esses signos dão dicas que apontam para algumas peculiaridades, mas ainda são insuficientes para descrever o todo que os envolvem. Ela se animaria em saber que podem existir signos para tudo. Como seria então a astrologia de um determinado e específico momento de sua vida?

Aquele dia de frio e garoa fina, enquanto conversavamos sobre a vida e a morte, é o dia de aquário. Seu símbolo é o aguadouro. O aquário é representado por um deus que durante as assembléias do Olimpo derrama nas taças o néctar da eterna juventude e da imortalidade. Néctar para os deuses e haja chuva para os mortais! Será que a definição dessa constelação pode dizer algo sobre o que acontece em sua vida após aquele dia?

Essa mulher também estava aflita com uma curiosidade quando eu a conheci. Ela temia o “depois”. O que será que aconteceria depois que a chuva secasse? Que a primavera, que por muitas vezes simboliza o tempo de harmonia e romance entre os casais, terminasse? O futuro totalmente imprevisível trouxe consigo um elemento surpresa: a evolução.

Assim como os pequenos animais, nos tornamos cada vez mais preparados para aprender a sentir algo que o mundo guarda para nós. O tempo é um grande amigo, o magnífico aliado das lagartas que permanecem em seus casulos lapidando a sua beleza antes da transformação. Esperamos também nossa metamorfose, assim como as borboletas radiantes que emergem desses momentos únicos. E então expandem suas asas para bombear sangue por suas veias sedentas de novidades e caminhos a percorrer.



São Paulo, 31 de janeiro de 2010.


“O encontro de duas personalidades é como o contato de duas substâncias químicas.
Se houver reação, ambas se transformam.” Carl Gustav Jung

6 de fev. de 2010

É, transborda-mi!

Transborda em palavras o que não coube no silêncio.

Transborda em silêncio o que falta nas palavras.

Transborda em sonho o que não coube no dia.

Transborda em dia o que falta no sonho.

Transborda em poesia o que não coube na chuva.

Transborda em chuva o que falta na poesia.


O intenso ultrapassa os limites do tempo.


Transborda em sorriso o que não coube no olhar.

Transborda em olhar o que falta no sorriso.

Transborda em alma o que não coube no corpo

Transborda em corpo o que falta na alma.


Escorre para o infinito, o que não cabe em momentos.




São Paulo, 20 de janeiro de 2010.


por Felipe Castilho