3 de mar. de 2010

O arquipélago precioso

No meu “eu” escultor
acenderam-se as chamas flamejantes
do criativo
que descobre seu bloco intacto de mármore virgem.

Conheci o meu maior desafio:
uma imperatriz,
aparentemente imune às minhas palavras.
E assim,
na minha melhor página em branco,
escrevo a nossa história sem dar um pio.

Somente com ações,
digo aos seus olhos verdes o que desejam sentir.
Para eles,
puros como os lagos
perdidos na natureza selvagem,
mostro a vida de um homem diferente.

Contudo, preciso concordar com a garota.
Nesse mundo globalizado de produções em massa,
os humanos se vestem iguaizinhos.
Eles dizem as mesmas coisas,
frequentam os mesmos lugares
e se divertem da mesma maneira.

É um imenso mar de igualdade
preenchido por um entediante cardume
que nada sempre no mesmo sentido.
Mas pergunto:
-Onde estão os peixes raros e
insubordináveis ao senso comum?
-Permanecem camuflados.

São nadadores irreverentes
misturados nesse oceano pacato,
buscando suas pérolas originais
para desenvolverem juntos
a linguagem dos seres exóticos.

Já somos exclusivos
e não tenho mais o que rogar aos ventos.
Só quero agora
uma profecia que se cumpra sem voz.

O caminho a ser trilhado
não é previsível,
foge aos oráculos
e lhe falta estrelas.

O primeiro passo do destino
foi o nosso encontro.
E então, logo veio uma conversa majestosa.
Mas as palavras apenas vagavam ao acaso,
nada precisava, de fato, ser dito.

Iniciamos uma união poderosa,
a conexão pura
que se transformou em beijo.
Junto brotava na epiderme o arrepio das almas.

Na pele nasceu a paixão,
filha da intensidade com o prazer.

Sentimento que surgiu analfabeto,
não por lhe faltar a língua,
mas por lhe faltar razão.

No ar eram tudo sensações.
O que sentimos estava ali presente
e não há como racionalizar ou descrever.

Com esses versos apenas arranho a taça de cristal
do que foi a nossa noite.
Não transmito o que passou,
viver não é relatável,
apenas crio sobre o passado sem mentir.
Dei corpo ao encanto que se instaurou em mim.

Esse sou eu,
também formado por um conjunto de amigos sem limites,
por um bando de gatos desgarrados,
intelectuais incompreendidos,
gigantes intombáveis,
aventureiros afiados,
e piromaníacos incontroláveis.

Sou esse todo.
Eu sou tudo,
menos o meu passado!

Não sinto falta de mim,
não caio no tédio.
Cada dia sou novo.

Não sou mais o que fui,
sou o que eu sei
sobre aquilo que eu era.

Cada dia sou criança e aprendiz,
sou jovem,
amante,
mortal.
Se eu parar; morro!
E morro de morte vivida,
pois sou inventor de meus dias
e invento vida mesmo na morte!

Convido-te a desfrutar meu infinito,
nem que seja só por hoje.



Felipe Castilho
São Paulo, 23 de fevereiro de 2010


"Grandes realizações são possíveis quando se da importância aos pequenos começos". Lao-Tsé

"Vou criar o que me aconteceu. Só porque viver não é relatável. Viver não é vivível. Terei que criar sobre a vida". Clarice Lispector

2 comentários:

Aninha disse...

Agora eu descobri, voce não é um simples escorpiano, um simples Felipe, um simples, poeta, uma simples pessoa, com desejos simples. Voce é um desvio sem caminho, um mar sem maré e sal, voce fe, ou melhor sua alma é imensa e sua aura transborda, igual de um nenem rescenascido. Mais uma vez, gravo comigo..e sinto feliz que vc pode compartilhar nao sua mente de genio, mais seu espirito lindo e indomavel. parabens fe, conseguiu traduzir tudo.

Anônimo disse...

"Viver não é relatável". Sábia Clarice...