18 de ago. de 2008

Palavras ao meu abismo!

Meu abdômen nunca viu tudo ao seu redor se contorcer e espremê-lo até esvair suas últimas auguras. Meus olhos comprimidos, por sua vez, nunca, de tal forma, viram a paisagem derreter em salubres formas de orvalho. Meu sorriso jamais batalhou sem forças, e meu quarto, em tempo algum, foi essa angustiante taberna. Minha janela jamais foi tão alta e os doze andares que me separam do concreto nunca me pareceram tão poucos. O canto dos pássaros jamais me havia feito desejar a extinção das aves. Esgarcei meus sentimentos até secar o pranto, e quando não havia mais lágrimas chorei meu deserto. Hoje, não há sequer uma única estrela no céu. Meu corpo foi dilacerado por dentro, e por isso meus anjos estão de luto. Uso, de agora em diante, uma coroa adornada de espinhos forjada no semblante daquela que sorriu ao meu enterro.

Felipe Castilho
17/08/08