2 de nov. de 2011

Gênesis

Quando aprendi a mergulhar fiquei encantado no primeiro dia com os peixes imensos, com as arraias e com os tubarões. No segundo dia me dei conta das anêmonas e como nadavam certos cardumes. O que demorei mais para perceber foram os minúsculos peixes hipercoloridos e algumas conchas miúdas de cores vibrantes e formações magníficas do tamanho de uma unha.

Conhecer pessoas é como mergulhar. Primeiro o que nos chama a atenção são as características impactantes e com o tempo passamos a descobrir o tesouro dentro de cada uma delas.

Adoro conhecer gente nova, enxergar bem as pessoas, como são suas ideias e suas características mais visíveis.

Vejo em você arte, literatura, conto de fadas, uma boa prosa, poesia e inteligência. Vi também a minha paixão adormecida por escrever - e foi o suficiente para eu entender tudo o que eu preciso saber, pelo menos por enquanto. As palavras enfim despertaram de um sono profundo, me beijaram dando bom dia, depois de me roubarem a noite.

Como é possível hibernar acordado? Foi um hibernar artístico. De uma primavera até a outra, de ponta a ponta, fui o urso literal. Você talvez, bela adormecida?

Disseram-te certa vez “Escrevi enquanto dormia, pois acordado era apaixonado por você”. Às vezes acho que faço parecido, escrevo durante as conversas, durante os momentos mágicos, e quando estou só, com a folha e nada mais, apenas passo a limpo.

Levo a metáfora do mergulho adiante, gosto de surfar pessoas, tem gente que pra mim são surf, entende? Movimento e exercício na superfície são como beijos de balada, fogos de palha... Mas me encanto e me tira do trilho quem me descola do real, do banal, da superfície, quem me faz mergulhar e interagir com meus sonhos...

“Os sonhos nos atormentam porque misturam o real com o irreal. Estão cheios de personagens reais, e quase sempre tratam de situações reais, mas eles são deliciosamente irracionais, forçando realidades a extremos de delírio. Se tudo num sonho fosse realístico, ele não teria nenhum poder sobre nós; se tudo fosse irreal, nós nos sentiríamos menos envolvidos nos seus prazeres e temores. A fusão das duas coisas é o que o faz assombroso.”

Concordo com o Robert Greene, é assombroso tanto quanto você ser humana e me parecer personagem de livro. Talvez tenhamos uma história a ser escrita, talvez não. Talvez eu já a tenha escrito em todas as entrelinhas de antigos poemas, textos, amores ou rabiscos de guardanapos. Talvez tudo até hoje fosse só rascunhos... Para passar a limpo a história da vida é preciso achar os verdadeiros protagonistas.

Durante a dúvida entre rascunho ou obra-prima vamos mergulhar?


Felipe Castilho, 19 de outubro 2011.

3 comentários:

Aloha disse...

Exagerado por padrão, do modo que você vive, é bom poder escrever do que se quer, o papel aceita tudo, só acho que não conseguimos mudar nosso modo de faze-lo

Laura disse...

cada vez q eu leio um texto seu penso:"Pq ele ainda nao escreveu um livro?".
beijo

Mariana Figueiredo disse...

Perfeito!